terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Profissão: Mãe!


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dias Felizes

por: Letícia Dawahri - Mamífera Convidada

Hoje é domingo e minhas filhas estão dormindo o sono dos justos. Aquele sono depois de um dia intenso de brincadeiras e passeios. Meu marido também está descansando e eu, pela primeira vez não estou angustiada por amanhã ser um dia em que vou me afastar do convívio com minhas filhas.

Amanhã vou acordar com tranquilidade, assim que a primeira acordar. Calmamente, sem me preocupar com as horas, vou preparar o café da manhã das duas. Amamentarei Yasmim e alimentarei Nicole. Depois vou até a padaria comprar pão fresco. No meio da manhã vou preparar um suco bem gostoso (talvez com beterraba, couve ou cenoura – que elas adoram). Apesar da minha ajudante adorar um açúcar, não vou adoçar ou se for necessário, será bem pouco e com açúcar mascavo.

Cuidarei para que a manhã seja alegre, divertida, repleta de brincadeiras. Pés no chão serão liberados e dependendo do sol, brincadeiras com água também. Tenho tempo e posso me juntar a elas nas brincadeiras. Conheço Nicole e com certeza ela gostará de brincar de casinha ou de pega-pega. Yasmim vai catar as jabuticabas verdes que caem no chão e juntá-las todas num cantinho para me mostrar. Estou lá e vou poder ver. Vou poder brincar de pique esconde e balançá-las na rede.

Vou descascar algumas laranjas serra d’água e picar uma manga. Talvez uma boa fatia de melancia para cada uma. Vou adorar ver as bocas sujas e as mãos melando. Também poderei verificar o nosso almoço e garantir que haja todos os tipos de alimentos que considero importante. Se faltar algo, posso ir ao sacolão e comprar algo fresco. Antes do almoço, acompanharei para que ambas lavem bem as mãos. Servirei o almoço a mesa e não mais na frente da televisão, como era uma prática. Depois vamos escovar os dentes e colocarei as duas, juntas no banho! Uma farra.

Vou poder levar Nicole na escola e voltar para casa para amamentar Yasmim. Esta, dormirá uma soneca gostosa. Quando acordar, estarei lá para pegá-la no berço e vê-la espreguiçando... Prepararei seu lanche da tarde, uma fruta com aveia ou granola. Brincaremos novamente ou no quintal ou com os brinquedos. Buscarei Nicole na escola e vou saber como foi o seu dia. A forma que ela está quando eu chego diz tudo: se cansada e feliz, tudo bem. Se estressada e/ou chateada, algo aconteceu. Posso parar e conversar um pouco com a professora ou pedagoga da escola. Posso conhecer as mães dos coleguinhas da sala.

Posso ver o abraço gostoso que Yasmim dá na Nicole quando esta chega da escola. Vou preparar p jantar e cuidar para que a alimentação seja prazerosa e adequada. Vamos brincar mais e esperar o pai chegar do trabalho. Se tiver muito calor, tomaremos outro banho, desta vez a três. Quando for a hora, sem pressa, colocarei cada uma para dormir e cuidadosamente darei um beijo de boa noite. Posso e consigo ainda, navegar na internet, responder meus e-mails e ler mais um pedaço de um livro.

No dia seguinte, poderemos fazer tudo igual ou diferente. Isto porque tenho tempo. Isto porque estou disponível. Tudo isso só pode acontecer porque tomei uma decisão. Fiz o que meu coração pediu, meu corpo sentiu, meu desejo me disse. Amo trabalhar mas também sei que, ser mãe é um trabalho nobre e necessário.

Há muito, ouvi de um professor de sociologia que a sociedade poderia ser bem melhorada se as mulheres voltassem para o fogão e para o tanque. Lógico que ele fazia uma analogia, sendo que a mulher deveria voltar para o lar.

Acredito que a independência, a conquista de espaço e de valor que nossas antecedentes conseguiram e que continuamos a conquistar ainda hoje – já que é um longo caminho a percorrer – foi fundamental, mas... ao sair de casa, o que colocamos no lugar?

Sim, sei que existem escolas maravilhosas, creches cuidadosas, babás experientes e ótimo quando há uma mãe ou irmã por perto. Mas, venhamos e convenhamos: é a mesma coisa que a mãe?

Eu acredito que não. Mãe só tem uma. É única e insubstituível... Salvo raras exceções, que confesso, tenho minhas dúvidas.

Amo trabalhar e minha carreira ia de vento em polpa. Estava em constante ascensão. Muitas responsabilidades e muitos benefícios pelo trabalho bem prestado. Sim, porque aquilo que me proponho a fazer, faço direito.

E estava fazendo direito com minhas filhas? Nunca me passou pela cabeça deixar o trabalho para ser única e exclusivamente mãe. Sempre acreditei na máxima que o que importa é qualidade e não quantidade. E segui isso a risca. Tanto que, por mais que trabalhasse muito, o momento em que estava com minhas filhas era único, integral, repleto de qualidade sim.

Mas a questão é: quanto de qualidade elas precisam? E quanto de qualidade eu acredito ser necessário para que essa fase – a primeira da vida, a base de tudo – seja cumprida da melhor forma possível? Chegou um momento em que eu percebi, ou melhor, elas me mostraram (porque temos uma relação íntima, em que todos os afetos, sentimentos, medos e desejos são demonstrados) que era necessário mais quantidade com qualidade que elas vinham tendo.

Nossa relação era tão gostosa, que queríamos mais. Trabalhar é bom? Sim, ótimo. Para mim e para elas, mas acredito que, às vezes, precisamos colocar na balança. O que pesa mais nesse momento?

Eu decidi que consigo ficar sem trabalho por um tempo. E decidi que essa pausa seria importante não só para elas, como para mim. Decidi que preciso ser mãe integralmente, nem que seja por um tempo. Decidi que cumprir este papel me fará bem, mais inteira, mais verdadeira. Decidi que, por mais que achem loucura, eu estou disposta a fazer qualquer loucura para cumprir a filosofia que acredito: família é a base de tudo. Sou família e prezo minha família, meu lar. E acima de tudo: posso (porque tenho as rédeas da minha vida) decidir viver de acordo com meus princípios.

Dinheiro fará falta? Lógico. Mas confesso que estou gostando de pesquisar mais os preços, pensar alternativas de economizar e evitar desperdícios e consumismo. Tudo o que na teoria eu sabia ser necessário, mas não vivia, por ser mais fácil não olhar para isso tudo. É o ciclo vicioso do consumo que eu consegui partir... no meio.

E ainda por cima, me tornei uma mãe, mulher, esposa mais feliz, mais tranqüila, mais descansada. Além de proporcionar as minhas filhas, momentos inesquecíveis, consigo visualizar o momento único que estou. Momento de rever meus valores. Confesso que tomar esta decisão me abriu portas e janelas que nunca havia pensado. Tirou toda a poeira do meu olhar e me deu uma dose extra de criatividade, afinal, felicidade rima com criatividade.

A vida é uma só. Não vou perder a oportunidade de fazer tudo o que quero e posso, pois, sem nostalgia, não sei como será o amanhã. Importa-me o hoje, o meu presente.

Postado por Kalu às 16:56
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